RIO DE JANEIRO – O cenário do crime organizado brasileiro, por muito tempo dominado por figuras masculinas, tem assistido a uma mudança significativa nos últimos anos. Mulheres têm ganhado destaque no tráfico de drogas, não apenas como parceiras ou cúmplices, mas assumindo cargos de liderança dentro das facções criminosas. Essas mulheres estão tomando a linha de frente nas operações, seja comandando comunidades, liderando negócios ilícitos ou gerenciando rotas de tráfico internacional de drogas.
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Diversas mulheres têm se destacado na cúpula do tráfico, desafiando a antiga visão de que o crime no Brasil seria uma área predominantemente masculina. Com a crescente participação delas, o mapa do crime se transformou. O papel feminino dentro do mundo do tráfico não é mais limitado às funções secundárias; mulheres estão agora comandando operações inteiras e tomando decisões estratégicas que afetam diretamente o fluxo de drogas e dinheiro nas favelas e comunidades urbanas.
Uma das figuras mais temidas é Aline Teixeira Mendes, a Diaba Loira, conhecida por sua ligação direta com o Comando Vermelho (CV) e seu posterior ingresso no Terceiro Comando Puro (TCP). Ela é uma das lideranças mais notáveis no cenário criminal carioca e foi vista em diversas comunidades de diferentes zonas do Rio de Janeiro, sempre à frente das operações de tráfico e de controle territorial. Aline é descrita como uma mulher implacável, cuja estratégia e violência lhe garantiram um lugar de destaque no topo do tráfico.
Mas Aline Teixeira Mendes não é a única mulher a se destacar. A figura de Amanda Oliveira, a Chefinha do Lixão, é outro exemplo claro de como mulheres vêm ganhando poder nas facções. Com apenas 28 anos, Amanda se tornou tesoureira do Comando Vermelho após a morte de seu marido, Charles Silva Batista, o Charles do Lixão. Ela gerencia recursos e movimentações financeiras para o tráfico, uma posição crítica em uma organização onde o controle do dinheiro é fundamental. Além disso, sua sogra, Richele da Silva Neres, a Chefona do Lixão, também ocupa um cargo de liderança significativo dentro do CV, ampliando o poder da família dentro do crime organizado.
A participação de mulheres na cúpula do tráfico não se limita a essas figuras. Paolla Bastos Neiva, a Musa do Crime, é suspeita de movimentar aproximadamente R$ 3 milhões para o Comando Vermelho, junto com seu marido, Valter Esteves de Bessa Júnior, o Quebra-Caixote, através do tráfico na Rocinha, uma das maiores favelas do Rio. Desde a abertura das investigações, ambos se tornaram procurados pela polícia, mas o impacto de suas ações no tráfico local foi imenso.
Em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, Luana Rosa de Araujo, a Madrinha da Cidade Alta, é uma das líderes mais procuradas do Terceiro Comando Puro (TCP). Ela comanda o tráfico no bairro de Imbariê e tem se consolidado como uma das figuras mais perigosas dentro da facção. Sua ascensão foi marcada pela violência e pela eficácia no controle das operações de tráfico, o que a tornou um nome temido entre os traficantes e autoridades.
Com a morte de Schumaker e a prisão de Esquilo, antigos líderes do tráfico no Jardim Catarina, em São Gonçalo, o nome de Cristiane do Catarina passou a ser associado à liderança do Comando Vermelho naquela região. Ela assumiu o controle da área e foi vista em diversas comunidades de São Gonçalo, mas segue foragida desde 2019. Sua liderança e conexão com o tráfico internacional de drogas tornaram-na uma figura central no combate da Polícia Civil.
Em Niterói, duas mulheres, Jaqueline e Ana Mary, se destacam por comandar o tráfico de drogas no Morro do Cavalão, em Icaraí. Desde que o principal chefe da região, Reinaldo Medeiros Ignácio (vulgo Kadá), foi preso em 2018, essas mulheres tomaram as rédeas do tráfico na localidade, gerenciando as operações de drogas e assegurando o controle da região.
Árvores Genealógicas do Crime: Famílias que Governam o Tráfico
O envolvimento de mulheres nas facções criminosas não se limita ao comando direto. Muitas delas têm raízes profundas dentro das famílias do crime, criando uma espécie de “árvore genealógica do tráfico”, onde o controle do poder é passado de geração em geração.
Amanda Oliveira, por exemplo, é filha de Charles Silva Batista, o Charles do Lixão, um dos traficantes mais temidos da história do Rio de Janeiro. Com a morte do pai, ela herdou a liderança e a responsabilidade sobre as finanças do Comando Vermelho. Sua sogra, Richele da Silva Neres, também conhecida como Chefona do Lixão, ocupa uma posição estratégica na estrutura da facção, consolidando o poder familiar dentro do tráfico.
Essas famílias, como a de Amanda e Richele, formam clãs poderosos que dominam não só as comunidades, mas também as rotas de tráfico, as finanças do crime e até mesmo as relações políticas que ajudam a garantir sua sobrevivência no meio da violência.
Especialistas apontam que o aumento da presença feminina no crime organizado está relacionado a uma série de fatores, incluindo a vulnerabilidade social, a falta de oportunidades e a dependência econômica. Muitas dessas mulheres, como Amanda Oliveira, nasceram e cresceram em comunidades onde o tráfico de drogas é a única maneira de ascensão social. Por outro lado, também há aquelas que se inserem no crime de forma consciente, em busca de poder e controle, aproveitando-se de uma estrutura que lhes garante respeito e influência.
O ex-capitão do Bope, Paulo Storani, ressalta que a ascensão das mulheres dentro das facções se dá, basicamente, por dois motivos: capacidade de gerar lucro e violência extrema. Para ele, a violência é uma das chaves para o respeito dentro das facções, e as mulheres que conseguem subir na hierarquia são aquelas que se adaptam a esse modelo de brutalidade e controle territorial.
O envolvimento crescente das mulheres no tráfico de drogas é uma realidade que deve ser observada com atenção. Elas não são apenas vítimas de um sistema coercitivo, mas também agentes ativas de transformação dentro das facções criminosas. Com habilidades para administrar rotas de drogas, finanças ilícitas e comandar territórios, elas estão se consolidando como figuras de poder no crime organizado brasileiro. A ascensão dessas mulheres no tráfico é um reflexo das mudanças nas dinâmicas do crime, que agora são marcadas pela brutalidade, pela capacidade de liderança e pela ambição feminina.
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