Milícia invade herança bilionária em Búzios e expulsa trabalhadores sob ameaça armada

Redação
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Família israelense trava batalha judicial para recuperar mais de 240 lotes tomados por criminosos; MPRJ liga invasões à expansão da milícia da Zona Oeste do Rio na Região dos Lagos

Um território avaliado em mais de R$ 30 milhões virou alvo da cobiça de milicianos em Armação dos Búzios. Terrenos pertencentes à tradicional família Bekerman, de origem israelense, foram invadidos por criminosos armados, que ameaçaram trabalhadores, roubaram materiais de construção e desafiaram abertamente o poder público. O caso, que envolve uma herança bilionária, acendeu o alerta das autoridades sobre o avanço da grilagem de terras na região, apontada como um novo foco de interesse da milícia oriunda da Zona Oeste da capital fluminense.

A tentativa de retomar parte dos lotes começou em dezembro passado, quando representantes do herdeiro Yaron Bekerman cercaram uma das áreas no loteamento Praias Rasas, em Búzios. O muro sequer chegou a ser erguido. Segundo o procurador Anderson Gaspari, homens fortemente armados expulsaram os entregadores, roubaram o material avaliado em R$ 178 mil e ainda filmaram as ameaças.

“Ligaram depois dizendo que eram os donos da cidade, que estavam acima das leis. Fiz o boletim de ocorrência e estou escondido até hoje”, contou Gaspari.

A ofensiva criminosa, no entanto, não é um caso isolado. O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) investiga há anos a atuação de grupos milicianos na Região dos Lagos. As denúncias mais recentes indicam uma nova estratégia de ocupação ilegal de terras, com apoio de advogados que tentam legalizar as invasões por meio de ações judiciais.

“Eles simulam um processo legal para ganhar tempo. E quando o verdadeiro dono tenta reaver a área, surgem ameaças e pressão”, explica o promotor Rafael Dopico, do Gaeco, grupo especializado no combate ao crime organizado.

Herança disputada

Os terrenos tomados pertencem ao espólio do empresário Amnon Bekerman, que junto com a irmã Ruth herdou o império imobiliário construído pelo pai, Yaakov Leib Bekerman. Magnata do setor, Yaakov imigrou para o Brasil em 1956, após os conflitos entre Israel e os países árabes. Hoje, parte da herança está sob posse de seus netos, Yaron e Sharon Bekerman, que vivem fora do Brasil.

De Tel Aviv, Yaron afirmou estar perplexo com a lentidão das autoridades brasileiras e comparou a situação com o sistema de segurança israelense.

“Se isso acontecesse aqui, a polícia já teria retirado os invasores. Disse ao meu procurador: precisamos tirar esses bandidos, porque o que estão fazendo é ilegal. Só queremos o que é nosso de direito”, declarou ele.

Segundo ele, os 240 lotes herdados estão distribuídos entre Búzios e Cabo Frio. Só em um condomínio na Praia Rasa, são 64 terrenos de 600 metros quadrados cada.

Milícia se espalha pela região

O avanço da milícia na Região dos Lagos lembra, segundo o MPRJ, o processo de expansão urbana que ocorreu na Zona Oeste carioca durante os anos 1970. Com o aumento da valorização de áreas como a Praia Rasa, criminosos passaram a ocupar ilegalmente os terrenos, vendendo-os com documentos falsos de cessão de posse.

As ações de grilagem têm contado com apoio de imobiliárias sediadas em bairros como Campo Grande, reduto histórico de milicianos. Uma das operações mais recentes contra o grupo foi batizada de Spolia — termo em latim que significa “esbulho” ou “invasão”. Em dezembro, sete pessoas foram presas na Estrada da Fazendinha, inclusive o ex-deputado Natalino Guimarães, condenado em 2009 por envolvimento com a milícia “Liga da Justiça”. Ele cumpria pena por posse ilegal de armas e formação de quadrilha.

Segundo o MP, o grupo chefiado por Esmeraldo da Conceição atuava com truculência, ocupando áreas sob ameaça e cedendo terrenos a policiais ou milicianos para garantir “segurança” nas invasões.

População acuada

Vítimas da ocupação ilegal relatam o clima de terror instaurado. O autônomo Alexandre Oliveira, morador de Búzios desde 1994, afirma que sua posse foi tomada durante a pandemia.

“Eles muraram tudo. Eram doze homens. Não vi armas, mas dava pra ver o volume sob a blusa. Já fui ouvido na Justiça, e agora aguardo o julgamento para tentar reaver minha casa”, relatou.

A prefeitura de Búzios confirma que há centenas de terrenos com ocupação irregular, mas afirma que cerca de 100 títulos já foram emitidos e outros 600 estão em análise. Já a Polícia Civil informou que o caso do roubo do material da família Bekerman segue sob investigação e que, oficialmente, não há registros de milícia atuando na cidade.

Enquanto isso, Yaron Bekerman, herdeiro do império, aguarda o desfecho da batalha judicial assistindo tudo à distância, de Tel Aviv.

“Não é só sobre dinheiro. É sobre justiça”, resume.

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