Sul Fluminense – Mesmo com a redução das taxas de homicídio no Brasil em 2023, cidades do Sul Fluminense seguem com índices de violência elevados, quando se considera a proporção entre número de mortes e a população. Os dados constam do ‘Atlas da Violência 2024: Retrato dos Municípios Brasileiros’, que traz informações de 2022, e do ‘Atlas da Violência 2025’, divulgado neste semestre pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
O levantamento introduz o conceito de “homicídios estimados”, que considera não apenas os casos registrados oficialmente como assassinato, mas também mortes classificadas como acidente, suicídio ou causa indeterminada, com indícios de execução criminosa. A metodologia amplia a compreensão da violência letal no país.
Em 2022, o Brasil registrou 46.409 homicídios de forma oficial. Com os ajustes, esse número sobe para 52.391, resultando em uma taxa nacional de 24,5 por 100 mil habitantes. Em 2023, os homicídios estimados caíram para 44.288, com taxa de 21,2 por 100 mil — a menor desde 2012. O Rio de Janeiro, no entanto, foi exceção: houve aumento de 14,1% nas mortes violentas, e a taxa estadual subiu para 26,2 por 100 mil.
O impacto da violência é mais evidente quando analisado proporcionalmente. Volta Redonda, por exemplo, teve 73 homicídios estimados em 2022, o que resulta em uma taxa de 27,9 por 100 mil — acima da média nacional e superior à do Rio de Janeiro, que, com mais de mil homicídios, teve taxa de 21,3, devido à sua população de mais de 6 milhões de habitantes.
Barra Mansa, com 169 mil moradores, teve 53 homicídios estimados e taxa de 31,3 por 100 mil — suficiente para colocá-la entre as 110 cidades mais violentas do país. Já Angra dos Reis, na Costa Verde, registrou o pior índice da região: 81 homicídios estimados para pouco mais de 207 mil habitantes, com taxa de 39,2 por 100 mil — cerca de 60% acima da média nacional.
Em Resende, os dados também são tensos. A cidade teve 78 mortes violentas em 2022 — sendo 38 homicídios dolosos, 1 latrocínio e 39 mortes por intervenção policial. A taxa final foi de 30,1 por 100 mil. Paraty teve o pior índice proporcional da região: 50,8 homicídios por 100 mil habitantes, atrás apenas de São Francisco de Itabapoana, no norte do estado. Segundo o Atlas, os crimes se concentram em áreas pobres e com baixa presença do poder público.
Esses dados mostram que, embora tenham menos homicídios em números absolutos, municípios de porte médio ou pequeno enfrentam níveis de violência superiores aos de grandes centros, quando se considera a proporção populacional. Angra, Paraty, Barra Mansa, Resende e Volta Redonda, por exemplo, superam a capital fluminense nesse critério.
O estudo também aponta que a violência no país está ligada, em grande parte, à disputa entre facções criminosas como o Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital, que expandem sua atuação por meio de alianças com grupos locais, muitas vezes articulados a partir de presídios. A guerra pelo controle do tráfico atinge tanto capitais quanto o interior, como demonstram os dados do Sul Fluminense.
O Sudeste apresentou a menor média de homicídios por região em 2022 (16,3 por 100 mil), mas o estado do Rio destoou, puxado por cidades litorâneas e médias, como Angra e Paraty.
O Atlas da Violência reforça que o número absoluto de mortes não é suficiente para avaliar a gravidade da violência. A taxa proporcional é a métrica reconhecida internacionalmente e, nesse aspecto, o cenário fluminense exige atenção e ações específicas, voltadas à realidade local de cada município.

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
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