EUA enfrentam “tempestade perfeita” no mercado de carne bovina

Redação
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País – O aumento no preço da carne bovina nos Estados Unidos tem causas que vão além das disputas comerciais ou das tarifas impostas por governos anteriores. Além do encarecimento da ração e de uma redução histórica no rebanho americano, que chegou ao menor nível em mais de sete décadas, agora há um novo temor sanitário: a possível chegada da mosca-da-bicheira, praga que já afeta rebanhos no México.

Segundo a Dra. Anete Mecenas, nutricionista e professora da Estácio, os seres humanos podem se contaminar ao comer a carne bovina infestada pelos ovos destes insetos. A ingestão de carnes com ovos ou larva  pode causar miíase intestinal, com sintomas como dores abdominais, náuseas, vômitos e, em alguns casos, sangue nas fezes.

“As moscas vão depositando seus ovos em feridas abertas e esses insetos entram em contato, por exemplo, com a pele humana e eclodem, e também podem ocasionar infecções secundárias, com destruição de tecidos e formação de fístulas. Por conta disso, é recomendável evitar o consumo de carne bovina quando os órgãos competentes identificarem a proliferação de moscas mortais em determinadas regiões”, alerta a especialista.

Para o economista Hugo Mezza, professor da Estácio, o cenário atual indica uma forte pressão sobre os preços internos, o que pode levar o governo estadunidense a rever políticas comerciais. “Qualquer diminuição de oferta impacta significativamente os preços. Se somarmos isso ao risco sanitário e ao custo elevado da produção, é possível que os Estados Unidos se vejam obrigados a flexibilizar medidas tarifárias contra países exportadores de carne, como o Brasil”, afirma.

Desde 2020, os consumidores americanos vêm pagando mais pela carne, fenômeno intensificado por fatores como a seca no oeste do país, o custo da alimentação animal e as restrições comerciais. Segundo Mezza, as tarifas impostas durante a gestão Trump, especialmente contra o Brasil, têm agravado a inflação interna e dificultado a política monetária americana. “A taxa de juros nos EUA segue elevada porque os preços continuam subindo. Manter essa guerra tarifária vai na contramão do combate à inflação”, observa.

Outro ponto destacado pelo professor é o desequilíbrio no ciclo produtivo da carne bovina. Diante da valorização do boi gordo, muitos pecuaristas optaram por abater fêmeas em vez de mantê-las para reprodução. “Isso compromete o rebanho futuro e afeta o ecossistema produtivo como um todo”, explica.

Para Mezza, o Brasil pode se beneficiar indiretamente dessa crise, desde que os EUA revejam suas barreiras comerciais. “O país é um dos maiores produtores de carne do mundo e, mesmo que hoje esteja penalizado pelas tarifas, há espaço para uma abertura futura. Os Estados Unidos podem ser obrigados a importar mais carne para garantir o abastecimento e conter os preços.”

Com o agravamento da situação, a expectativa, explica o economista, é de que os EUA considerem uma reaproximação com fornecedores internacionais para evitar desabastecimento e instabilidade no mercado. Enquanto isso, o Brasil deve observar de perto os desdobramentos — que podem representar uma nova janela de oportunidade para suas exportações.

 

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