ARMAÇÃO DOS BÚZIOS – O que parecia ser apenas uma tentativa de regularização fundiária em Búzios virou um caso de violência, grilagem e milícia. Representante legal da família israelense Bekerman, o advogado Anderson Gaspari foi expulso por homens armados ao tentar cercar um dos 93 terrenos herdados por seu cliente, o empresário Yaron Bekerman, na Praia Rasa. O episódio, ocorrido em 18 de dezembro de 2021, envolveu ameaças, roubo de material de obra e intimidações que ainda hoje mantêm o procurador escondido.
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Gaspari chegou à cidade em 2021 com a missão de localizar os bens de Amnon Bekerman, magnata israelense do setor imobiliário. Com a documentação em mãos e os registros atualizados em cartório, ele buscou a planta dos terrenos na Secretaria de Obras de Búzios. A intenção era cercar os lotes para evitar novas ocupações, mas o plano foi frustrado.
“Eram milicianos. Quando o caminhão descarregava o material para o muro em dez lotes da Rua Flamboyant, homens armados expulsaram todos do local, levaram R$ 178 mil em pré-moldados e ainda filmaram tudo. Depois me ligaram dizendo que eram os donos da cidade”, relata Gaspari.
A propriedade está registrada em nome de Amnon, morto em 2002, e faz parte do espólio herdado por seus sobrinhos, Yaron e Sharon Bekerman. Segundo Yaron, que vive em Tel Aviv, a situação no Brasil é completamente diferente da de Israel:
“Aqui, se alguém invade uma propriedade, a polícia tira em questão de horas. Mas, no Brasil, parece que tudo é mais complicado. Disse ao Anderson: ‘Temos que tirar esses bandidos de lá. É ilegal’.”
O caso faz parte de um Procedimento de Investigação Criminal (PIC) instaurado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro. O promotor Rafael Dopico, do Gaeco, afirma que grupos milicianos atuam em Búzios há anos, com foco na grilagem de terras e na exploração irregular do mercado imobiliário.
“Antes, forneciam gatonet e água clandestina. Agora, invadem terrenos, processam os verdadeiros donos e usam até advogados para dar aparência de legalidade. Quando não conseguem via judicial, partem para ameaça”, explica o promotor. “A área da Praia Rasa, com o crescimento urbano e projetos como o Aretê, virou alvo prioritário desses grupos.”
A atuação é semelhante à expansão desordenada da Zona Oeste do Rio nos anos 1970. Em dezembro de 2023, uma operação batizada de Spolia prendeu sete suspeitos de envolvimento com grilagem em Búzios, na Estrada da Fazendinha. O grupo seria chefiado por Esmeraldo da Conceição, com apoio do ex-deputado e ex-policial civil Natalino Guimarães, ex-líder da milícia Liga da Justiça, junto com o irmão Jerominho, morto em 2022.
Trechos da denúncia apontam que terrenos são cedidos a integrantes das forças de segurança para garantir proteção às invasões. Uma das imobiliárias investigadas tem sede em Campo Grande, berço de atuação de milícias no Rio.
O autônomo Alexandre Oliveira, morador da Estrada da Fazendinha desde 1994, é uma das vítimas do avanço miliciano. Ele relata que sua propriedade foi cercada por um muro durante a pandemia.
“Eram 12 homens. Não vi arma na mão, mas reconheci o volume sob a camisa. Já depositei meu depoimento e espero decisão da Justiça”, diz.
A Prefeitura de Búzios informa que 100 títulos fundiários já foram emitidos e outros 600 estão em andamento. Sobre os lotes da família Bekerman, o município diz que fará levantamento técnico. Já a Polícia Civil investiga o roubo do material de construção na 127ª DP (Búzios), mas não reconhece oficialmente a atuação de milícia na cidade. O caso também é acompanhado pela Draco, especializada em crime organizado.
As defesas de Esmeraldo e Natalino não se manifestaram.
Fonte: O GLOBO
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