Volta Redonda – Uma substância nociva a equinos, encontrada em lotes da ração Forrage Horse, da Nutratta Nutrição Animal, pode ter causado a morte de mais de 20 cavalos no Sul Fluminense. A mortandade de animais também foi registrada em outras partes do país, como em Indaiatuba (SP), onde mais de nove cavalos morreram e 120 adoeceram.
Em Volta Redonda, o Clube Hípico hospedava 52 cavalos particulares, a maioria de competição. Segundo funcionários, a ração utilizada era uma marca antiga no mercado. “Veio contaminada. Praticamente nenhum dos animais sobreviveu”, lamentou Christiane Carraro, neta de um dos sócios-fundadores do clube e integrante da atual diretoria.
Ela destaca que os sintomas nos animais são severos e os custos veterinários, altíssimos. Em um dos casos, foram gastos cerca de R$ 30 mil para tentar salvar um único cavalo. Os principais sintomas observados incluem danos neurológicos, falta de evacuação e lesões hepáticas.
A ração foi suspensa após a primeira morte, registrada em 19 de maio. Segundo Christiane, os cavalos passaram a rejeitar a ração, o que levou à troca do lote. O distribuidor, por iniciativa própria, recolheu todas as sacas após os primeiros óbitos registrados em São Paulo. “Trocamos a marca da ração, mas nenhum cavalo comia mais. A troca foi uma iniciativa do fornecedor, que nos ajudou muito”, explicou.
Até o fechamento desta reportagem, oito cavalos haviam morrido em Volta Redonda, mas esse número pode aumentar nos próximos dias. A principal suspeita é que a substância tóxica presente na ração seja monensina — um antibiótico usado em bovinos e ovinos para melhorar o desempenho alimentar, mas altamente tóxico para equinos. A monensina provoca danos musculares, especialmente no coração, podendo levar à morte em pouco tempo.
A veterinária Ana Carolina, responsável pelo tratamento de alguns dos animais, relatou que os cavalos estão sendo submetidos a fisioterapia, monitoramento constante, uso de antioxidantes, antibióticos e até transfusão de sangue — como no caso de um cavalo que sofreu hemorragia interna.
A cardiologista veterinária Alessandra Ribeiro Lucena, da ClinCardio Cardiologia Veterinária, destacou a gravidade do quadro. “Nesse cenário de intoxicação, a avaliação cardiorrespiratória tem sido essencial para identificar os animais que ainda não apresentaram sintomas ou estão com sintomas discretos. Realizamos desde exames pulmonares detalhados até ecocardiografia e eletrocardiograma”, explicou.
Segundo ela, já foi possível observar disfunções cardíacas em animais com sintomas leves. “Alguns cavalos demonstram sinais de fraqueza do miocárdio. Estou colaborando com a equipe clínica na tentativa de introduzir terapias de suporte cardiovascular, com o objetivo de salvar o máximo possível de animais. É um quadro de intoxicação, não de doença contagiosa. Infelizmente, o avanço dos sintomas é rápido, o que torna tudo ainda mais triste.”
O criador Wander Folly, um dos proprietários afetados, afirmou que perdeu alguns de seus animais. “Até agora, contabilizamos cerca de 30 cavalos mortos só na nossa região. A situação está muito difícil para todos nós. Muita gente ainda não sabe o que está acontecendo, por isso decidi me pronunciar para dar visibilidade ao problema e cobrar providências.”
Wander também denunciou a ausência de apoio por parte da empresa responsável pela ração. “Infelizmente, até agora não recebemos qualquer tipo de suporte. Sabemos que alguns fiscais do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) chegaram hoje, dia 5, para iniciar a apuração. Mas são poucos os que têm noção da gravidade do que está acontecendo.”
“Estamos falando de uma intoxicação alimentar em massa, que já matou muitos animais e deixou outros em tratamento — com alto custo para os criadores. Viemos a público porque precisamos de repercussão. Só assim conseguiremos mobilizar apoio e buscar justiça diante dessa tragédia”, concluiu.
O presidente do Clube, Alan Rocha, reforçou que todos os esforços estão sendo feitos. “Estamos fazendo de tudo, com o apoio dos proprietários e a solidariedade de muita gente. Já perdemos oito cavalos. Corremos atrás de soluções, mas a cada hora surgem novas informações. Sabemos que o contaminante ataca fígado, coração, rins e musculatura. Estamos tomando todas as medidas possíveis, com embasamento técnico. Estamos com o Ministério da Agricultura, a Agência Estadual de Defesa Agropecuária e outros órgãos tentando resolver o problema.”
Nota da Redação: O DIÁRIO DO VALE tenta contato com a assessoria de imprensa do Ministério da Agricultura e com a empresa Nutratta Nutrição Animal. Tão logo se manifestem, a matéria será atualizada.
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